sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009
"Esperar? Mas o quê?"
E o povo é como - a barca em plenas vagas,
A tirania - é o tremendal das plagas,
O porvir - a amplidão.
Homens! Esta lufada que rebenta
É o furor da mais lôbrega tormenta...
- Ruge a revolução.
E vós cruzais os braços... Covardia!
E murmurais com fera hipocrisia:
- É preciso esperar...
Esperar? Mas o quê? Que a populaça,
Este vento que os tronos despedaça,
Venha abismos cavar?
Castro Alves, «Estrofes do Solitário»
domingo, 15 de fevereiro de 2009
Absolut Musts II
Para a próxima quero este (no P&P, claro)!
Depois posso hibernar mais uns meses sem cinema...
sábado, 14 de fevereiro de 2009
Coragem, portugueses, só vos faltam as qualidades!
A frase de Almada Negreiros (in Ultimatum Futurista às gerações portuguesas do séc. XX, de 1917) é um bom ponto de partida.
Há uma estranha disfunção entre os portugueses, naquilo que toca à sua auto-imagem.
Quando se trata de medir as suas próprias capacidades individuais - e se lhes pediria portanto que fossem redobradamente objectivos, justos e razoáveis -, cada um é o maior.
A avaliar pelas críticas fáceis e demolidoras com que invariavelmente brindam o seu próximo (sobretudo se este estiver na berlinda), o auto-conceito de cada português é benemérito e generoso, pois nunca há desempenho alheio que o satisfaça.
Contudo, quando a avaliação incide sobre as capacidades colectivas, enquanto povo, o português é surpreendentemente exigente e do mais masoquista e auto-destruidor que pode imaginar-se.
Não há alma colectiva, não há orgulho. Não há força, nem fé, nem uma arriba! que nos sustente o salto.
Portanto, quanto à capacidade de auto-crítica (as qualidades), estamos falados. O erro de perspectiva é revelador.
Quando esta relação de forças se inverter talvez nós, portugueses, cheguemos a algum lado (?)
Há uma estranha disfunção entre os portugueses, naquilo que toca à sua auto-imagem.
Quando se trata de medir as suas próprias capacidades individuais - e se lhes pediria portanto que fossem redobradamente objectivos, justos e razoáveis -, cada um é o maior.
A avaliar pelas críticas fáceis e demolidoras com que invariavelmente brindam o seu próximo (sobretudo se este estiver na berlinda), o auto-conceito de cada português é benemérito e generoso, pois nunca há desempenho alheio que o satisfaça.
Contudo, quando a avaliação incide sobre as capacidades colectivas, enquanto povo, o português é surpreendentemente exigente e do mais masoquista e auto-destruidor que pode imaginar-se.
Não há alma colectiva, não há orgulho. Não há força, nem fé, nem uma arriba! que nos sustente o salto.
Portanto, quanto à capacidade de auto-crítica (as qualidades), estamos falados. O erro de perspectiva é revelador.
Quando esta relação de forças se inverter talvez nós, portugueses, cheguemos a algum lado (?)
Dar mais ao País do que receber
Muito bem lembrado, aqui.
Já na altura os carreiristas do PSD lhe fizeram a vida negra.
Deixaram semente.
sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009
quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009
Política espectáculo
«É aqui que intervém a sociedade do espectáculo, no sentido pejorativo do termo.
Além mesmo do debate público e político, vivemos hoje num mundo em que o «parecer» tem mais força que o «ser»: como se fosse mais importante parecer honesto, atento, dedicado, competente, do que ser competente, dedicado, atento e honesto.
A vaidade política joga sempre de modo sofístico com o «parecer», o que falsifica o debate público e político, tornando-o oco e abrindo a porta a golpes de força para a conquista do poder.
A vaidade política joga sempre de modo sofístico com o «parecer», o que falsifica o debate público e político, tornando-o oco e abrindo a porta a golpes de força para a conquista do poder.
O que se acaba de dizer do debate político é susceptível de afectar também os grandes debates socioprofissionais sobre a educação, a escola, a Universidade, a gestão da saúde, a cultura.»
(Michel Renaud - Fundamentos Éticos da Cidadania)
terça-feira, 10 de fevereiro de 2009
Diálogos de fim de inverno
À saída da sessão, nos cadeirões do bar da baixa, onde se fuma. E que tem mesas de tampo transaparente, sob o qual se alinha um regimento de cartões de visita (bonito, este décor):
- Oufa! Sem fôlego!
Cilindrou os irrelevantes, excomungou os deuses e os heróis, abençoou os danados...
Como é que compreendeu isso tudo?
- Compreendi o quê? Só se compreende aquilo que se conhece, que se vive e se sente. Não há revelações.
- Precisamente. Viveu. Viveu e adivinhou inteligentemente.
- Isso... riso de troça... por aí está a ir muito bem! - Vê? Você também adivinhou, mas não conhece o caminho. Confesse lá que não.
- Engana-se, acho que sim, conheço. Tanto é assim quero urgentemente trilhá-lo.
- Ui! Trilhar não vale... magoada é que não!
- Nunca, há aqui demasiada harmonia para isso, mesmo se o incêndio foi acidental.
- sorriso triste - Acho que estamos a estragar tudo!
- Nada disso, estamos é a consertar, ou seja, a aceitar o catalisador.
- Não gosto que me chame acidental.
- Um acidente que muda a vida toda?
- silêncio, acende outro cigarro. perde-se no olhar dele.
Não, nem assim gosto.
Mas sinto que há algo que me trai. A curiosidade? Não, é mais uma necessidade (violenta, pensa ela)
- E ...?
- calada. Inala o cheiro dele.
- Porque é que te calaste?
- Porque a conversa tem de ficar por aqui. Eu tenho medo.
(não me trate por tu.)
- Tu?! Medo de quê? Do que os outros dirão?
- Não, tonto! Medo de ti, é claro.
(não me trates por tu!)
- Mas como se pode recear quem nos faz bem?
- Por isso mesmo! É que eu já não me lembrava de um olhar como o teu. Do que lá vejo.
- E vês o quê, pode saber-se?
- Vejo-me a mim, que me meteste lá.
- Já percebeste, então.
Diz-me só onde e quando.
- O quê? De que é que falas ?
- Duma viagem, claro. Não vês? Já é tarde demais para não irmos lá, agora.
- E tudo o resto?! Não gosto de facadas. Acho deplorável.
... a moral, a moral. (Morre por tocar nele)
- Na vida, minha cara, só tens valores porque alguém os quebrou.
- Hummm... Eu tenho noção disso.
- E eu não sei ser Petrarca... diz ele, pondo aquele ar sisudo que ela adora
- Não faz mal, deixa estar.
- Pa... (ele hesita) - Pantagruel, talvez?
ela dá com os olhos num dos cartões, que diz "Adriano Moreira" e pensa o que faz este aqui, enquanto lhe diz
-Que seja, então... Que sejas!
- Que eu seja o quê?
- O meu banquete, claro.
sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009
Deserto português VII
Mais uma baixa indiscriminada na cultura institucional portuguesa.
O Governo extinguiu um dos poucos casos de sucesso na qualificação dos quadros públicos, a escola que inaugurou e consolidou, durante 30 anos, uma cultura profissional baseada na aquisição de conhecimentos e na afirmação do mérito.
A fórmula começa a ser repetitiva: - entregar aos privados.
Como se o Estado não tivesse nada a ver com o assunto.
Brief: a cartilha de Pilatos.
O Governo extinguiu um dos poucos casos de sucesso na qualificação dos quadros públicos, a escola que inaugurou e consolidou, durante 30 anos, uma cultura profissional baseada na aquisição de conhecimentos e na afirmação do mérito.
A fórmula começa a ser repetitiva: - entregar aos privados.
Como se o Estado não tivesse nada a ver com o assunto.
Brief: a cartilha de Pilatos.
quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009
Delito de opinião?
Transmissão de pensamento: - eu também fiquei com dúvidas (aliás, estupefacta).
Sobretudo por não ser mãe a tempo inteiro e, por isso, saber muito bem do que falo.
Qualquer dia, como é:
- Fecham as crianças a cadeado para ir tomar um copo?
- Ou exigem o funcionamento non-stop das escolas, para poderem ir à praia tranquilamente, sem os offsprings a chatear?
Sobretudo por não ser mãe a tempo inteiro e, por isso, saber muito bem do que falo.
Qualquer dia, como é:
- Fecham as crianças a cadeado para ir tomar um copo?
- Ou exigem o funcionamento non-stop das escolas, para poderem ir à praia tranquilamente, sem os offsprings a chatear?
Deserto Português VI
terça-feira, 3 de fevereiro de 2009
segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009
No-fault, a divisa nacional
O divórcio no- fault e alguns nomes.
Todos colegas nos bancos da FDUC, estes senhores bem intencionados não vivem, porém, no país real.
E assim temos, portanto, uns tantos adultos de calções que querem pôr as nossas coisas ao toque das suas visõezinhas de geração make love, not war.
Claro, uma coisa é certa, como de costume:
- jamais serão eles a pagar a factura, cuja conta não corre no Portugal mirífico em que se movem
Yes, weekend!
Sim. Todo o fim de semana que se preze é um fim e um princípio.
Deve ser essa a mágica.
Regressar às raízes e à acidental casa paterna (sobretudo por isso).
À casa grande, estranha e conhecida.
Onde as paredes de granito sussuram, graves, todas as censuras do mundo pelo abandono.
Como se escondem em nós, essas razões, discretas.
Cobardes, clandestinas, invisíveis (de fora).
E as pedras, trocistas, lançam, acusadoras:
- Mas quem és tu? - Conheces-te?
E eu que lhes respondo:
- Sei que não sou daqui.
Então há o afecto abstracto, pegajoso, sem norte.
Procurando razões e resistindo ao mimetismo (tão óbvio, na recusa).
- Adoro o Minho, Pai.
Eu sei que não parece.
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