Há um teste fatal para que nunca consigo preparar-me em cada ano.
Terá sido sempre assim desde que me lembro. Volto forçada ao princípio de uma qualquer escala de esforço que a natureza me impõe, inexorável. E comporto-me como um animal vitimizado às mãos de um erro grosseiro do biólogo-mor.
É a mesma coisa a cada fim de verão: vem este esbulho violento, esta perda, esta ameaça de tempo minguante; o frio e o escuro, castradores e malditos; e uma tristeza pesada, intrusa e insidiosa.
Não me conformo nunca. É o termo gratuito de um ciclo feliz.
Feito de claridade, ar livre, quentura e generosidade; e água, muita água, azul e envolvente, contida nos limites da crosta terrestre, e não vinda de cima, aos jorros, pegajosa, hostil, desorganizadora.
Bem sei que também há o outro lado, que é gozar um bom livro; ou deslizar para uma boa cavaqueira debaixo do feitiço do lume na lareira; beber um chá qualquer (que é quase nunca, hélas, um Mariage Frères); e trincar irresponsavelmente uns bolinhos de canela de Santa Clara a Velha.
Mas são tudo remendos.
Que nos desvitalizam e contaminam, malvadamente, de doença calórica...
O Inverno castiga-nos.
O Verão merece-nos.