Percebo-o muito bem.
Não nos rendemos. Não ficamos lamechas.
Desprezamos o ridículo da relação infantilóide.
Às vezes, simplesmente, cansa-nos, tolhe-nos os movimentos.
E outras, chega-se a deplorar a hora da afiliação.
Quando morrem, percebemos que éramos inseparáveis.
É ridículo, mas não queremos saber.

Há lá dentro uma alma que quer falar e não pode, princesa encantada por qualquer fada má.
Num grande esforço de compreensão, debruço-me, mergulho os meus olhos nos olhos do meu cão:
- tu que queres?
E os olhos respondem-me e eu não entendo...
Ah, ter quatro patas e compreender a súplica humilde, a angustiosa ansiedade daquele olhar!
- Afinal...de que tendes vós orgulho, ó gentes?”
Diário, Florbela Espanca