pR6nitSNH08tQNpWPA5eZO9DQjdlskzknDPg03Ak5Q0=all-head-content'/> QUARTIER LATIN: O olhar de um cão II

domingo, 12 de julho de 2009

O olhar de um cão II


Percebo-o muito bem.

Não nos rendemos. Não ficamos lamechas.
Desprezamos o ridículo da relação infantilóide.
Às vezes, simplesmente, cansa-nos, tolhe-nos os movimentos.

E outras, chega-se a deplorar a hora da afiliação.

Quando morrem, percebemos que éramos inseparáveis.

É ridículo, mas não queremos saber.




“ O olhar dum bicho comove-me mais profundamente que um olhar humano.

Há lá dentro uma alma que quer falar e não pode, princesa encantada por qualquer fada má.
Num grande esforço de compreensão, debruço-me, mergulho os meus olhos nos olhos do meu cão:
- tu que queres?
E os olhos respondem-me e eu não entendo...

Ah, ter quatro patas e compreender a súplica humilde, a angustiosa ansiedade daquele olhar!

- Afinal...de que tendes vós orgulho, ó gentes?



Diário, Florbela Espanca