
Não precisávamos de entrar na UE e conhecer a Carta Europeia de Autonomia Local para nos compenetrarmos da sua importância.
Os municípios portugueses são a base autêntica do governo territorial (freguesias, distritos e regiões são inventonas administrativas sem eco histórico, o que é dizer, sem força própria, que não transcendem o fenómeno do voluntarismo da lei).
Ainda assim, o facto é que não ligamos nada. E devíamos.
Passamos ao lado.
Se olhamos, mas não vemos o nosso próprio concelho, quanto mais o dos outros...
É como se a regra da territorialidade compartimentasse o direito a interessar-nos.
Só que envolver-nos mais no conhecimento dos governos locais é um sinal de maioridade política, não é nenhum tique de paroquialidade.
Criticar, apoiar, exigir, rejeitar, acompanhar, vigiar: são actos que não são privativos das Inspecções Gerais de Finanças e da Administração do Território, que já têm muito que fazer...
Estão ao nosso alcance e devíamos exercê-los sem peias, porque a qualidade das democracias locais também é feita por nós (sendo que estão mais à mão de semear do que o a infinita clientela do Terreiro do Paço, o topo da pirâmide política que aguarda estes eleitos).
Isto para dizer que, apesar de alguns casos exemplares, o nosso poder local mede-se pela qualidade de quem lá está: uma grande maioria péssima, sem habilitações nem cultura.
Podem até ter visão, à sua maneira. Mas não têm mundo que não seja o do corredorzinho abafado das geminações.
São os mercadores do brilho fácil, os milagreiros do betão, os heróis da banalidade e os culpados do mau gosto legalizado.
Nasceram com asas que não voam, não têm modos, não têm apresentação.
São, em suma, o local no pior sentido da palavra.
Reuniram-se este fim-de-semana em Viseu, para mais uma parada anual do atraso da nação.
E lá foi o PM fazer umas promessas.
Salvo Beverly Hills e Bond Street, esteve realmente entre iguais.