pR6nitSNH08tQNpWPA5eZO9DQjdlskzknDPg03Ak5Q0=all-head-content'/> QUARTIER LATIN: Deixem-me rir

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Deixem-me rir





Para quê tanta coisa? Só passou mais um dia, como outro qualquer.

Hoje é apenas um novo duodécimo, por acaso o 1.º (OE e prazos fiscais, não sei porque fingem que não se trata apenas disso e mais nada).

Acordem: - Não há hiato algum, não há armistício.

E o Tempo não nos concede nenhuma bula extra por apenas fluir, inexorável.

Ah, verdade seja! Existe também o tempo atmosférico, vá lá: registe-se a bonança.

Há desde ontem menos electricidade no ar, essa que absorvo literalmente, sem me dar conta. E que me infernizou os últimos dias até que, finalmente, trovejou. E veio a dádiva do granizo furioso e redentor, a descarregar em meu nome todo o desconcerto da química alterada. E a entornar, pelo mundo, todo o seu desatino.


Mas está bem.

(deixem-me rir).

Já que temos de ritualizar, então ofereço-me o cenário ideal: em frente à água. A afectuosa imensidão da água, que me acalma e que relativiza tudo. Sempre assim foi, abençoada seja.

E aqui me sento com um duvidoso capuccino, pobre arremedo daqueles cafés-crème divinos da rue Soufflot, onde o inverno é inverno, há neve e o frio é seco (soa a presunção, não é? pois que se lixe).


Hoje é somente mais tarde, bem tarde no dia.

Porque a véspera foi longa, e abrasileirada, e regada de chuva cronometrada para cair nos momentos chave, sem mercê pelos meus saltos a patinar em aquaplanning, rua fora, inundada. Tarde porque dormi demais, a recompor-me de uma véspera quase hostil, de tão previsível e decepcionante em tudo, até no engodo do glamouroso veuve clicquot ponsardin perfeitamente igual, feitas as contas do palato afinado, a qualquer um bom espumante português de esclarecida escolha.

(deixem-me rir).


Estou muito farta de tudo. Porque será…

Gostava de acreditar que era só de 2009, mas sinto demasiado cansaço para ver mais claramente do que isto (apenas este nada).

Um nada a que imperialmente decido virar costas.

E que não prefiro ao tudo que me aguarda no imenso espelho d’ água.