pR6nitSNH08tQNpWPA5eZO9DQjdlskzknDPg03Ak5Q0=all-head-content'/> QUARTIER LATIN: novembro 2009

sábado, 28 de novembro de 2009

Absolut Musts III





Os olhos a perder de vista, do tamanho da selva.
A voz única. Perturbadora.
Um esboço de sorriso, apenas.
E o enorme talento, indiscutível, versátil, convincente.

domingo, 15 de novembro de 2009

Inoculações




Não houvesse outras magnas questões nacionais a preocupar-nos, teríamos aqui outro pequeno gate.

Quando meio país - o país informado -, se recusa a receber a vacina do vírus H1N1, o que será que está a ser inoculado no bracinho musculado de Sócrates?
- Hummm?

O certo é que de um impostor complusivo podemos esperar tudo menos a verdade.

- serão vitaminas?
- soro da mentira?
- euforizantes?
- viagra injectável?
- bottox-efeito bíceps?
- hormonas de rei-leão-bebé, criado em cativeiro?

Uma coisa parece certa: - pelo ar da bandarilha e o beicinho do toiro, vacina anti-gripe A é bem capaz de não ser...

Infelizmente não há escutas dentro das seringas, senão seria mais uma daquelas coisas que jamais saberíamos.


segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Miragens



Queria fazer uma coisa que lhe agradasse. Como dantes.
Queria que ele nos visse a rir, a falar ao mesmo tempo, a infringir as regras numa transgressão de crianças.

No fim do jantar lembrei-me das castanhas. As verdadeiras, assadas na rua, brancas de cinza e manchadas do negro de fumo.
Também me lembrei dela: esguia, promissora, genuína. Acompanhara-me de Óbidos para lhe oferecer e passar a brilhar, plebeia, como um nonsense, entre as fieiras de costados nobres alinhadas na sua garrafeira.
«- Fica guardada para o S. Martinho», dissera então, levando aquilo a sério.

Mas não sabíamos que não estaria cá.

Saí para a noite gelada e percorri de carro os sítios prováveis: a esquina do TAGV, o fundo das Monumentais, o Largo de Sansão.
Nada.
Tentei depois as novas geografias, pelas entradas dos grandes centros comerciais.
E também nada.
Desisti, com uma frustração infantil do tamanho do mundo.
Os assadores de castanhas abandonaram os seus postos na cidade invernosa.
E já só vêm ao cheiro da canela, as festas de caloiros e os dias de futebol.

Assim não pode ser!
Subsidiem-se então estes cultores de cozinha artesanal.
Entre uns quantos fogareiros e umas castanhas de Sernancelhe o gasto será ridículo, ao lado do que se esbanjou só com o novo papel impresso do XVIII Governo Constitucional.

Protejam os vendedores de castanhas: - afinal só temos um planeta e os nossos filhos merecem herdá-lo em condições de sobrevida.

- Quem há-de depois curá-los do spleen de outono-inverno?

Nunca mais



Fim de dia cinzento. Chuva.Frio. E o encerra-semana do costume: jantar na casa-mãe.

Neste domingo acontece uma lembrança triste, disfarçada, que vem do ciclo ritual das datas negras.
Quem pode ignorá-las.
Quem pode fingir que não recorda.
Quem não olha o lugar.
Quem não lembra o que era, como se fosse hoje.

A saudade tira-nos, a saudade rói-nos. E não é como outras que tivemos.
Esta saudade é um nunca mais.
Um nunca-mais-haverá-nada-que-cresça do lado que nos comeram.