pR6nitSNH08tQNpWPA5eZO9DQjdlskzknDPg03Ak5Q0=all-head-content'/> QUARTIER LATIN: Miragens

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Miragens



Queria fazer uma coisa que lhe agradasse. Como dantes.
Queria que ele nos visse a rir, a falar ao mesmo tempo, a infringir as regras numa transgressão de crianças.

No fim do jantar lembrei-me das castanhas. As verdadeiras, assadas na rua, brancas de cinza e manchadas do negro de fumo.
Também me lembrei dela: esguia, promissora, genuína. Acompanhara-me de Óbidos para lhe oferecer e passar a brilhar, plebeia, como um nonsense, entre as fieiras de costados nobres alinhadas na sua garrafeira.
«- Fica guardada para o S. Martinho», dissera então, levando aquilo a sério.

Mas não sabíamos que não estaria cá.

Saí para a noite gelada e percorri de carro os sítios prováveis: a esquina do TAGV, o fundo das Monumentais, o Largo de Sansão.
Nada.
Tentei depois as novas geografias, pelas entradas dos grandes centros comerciais.
E também nada.
Desisti, com uma frustração infantil do tamanho do mundo.
Os assadores de castanhas abandonaram os seus postos na cidade invernosa.
E já só vêm ao cheiro da canela, as festas de caloiros e os dias de futebol.

Assim não pode ser!
Subsidiem-se então estes cultores de cozinha artesanal.
Entre uns quantos fogareiros e umas castanhas de Sernancelhe o gasto será ridículo, ao lado do que se esbanjou só com o novo papel impresso do XVIII Governo Constitucional.

Protejam os vendedores de castanhas: - afinal só temos um planeta e os nossos filhos merecem herdá-lo em condições de sobrevida.

- Quem há-de depois curá-los do spleen de outono-inverno?