
Queria fazer uma coisa que lhe agradasse. Como dantes.
Queria que
ele nos visse a rir, a falar ao mesmo tempo, a infringir as regras numa transgressão de crianças.
No fim do jantar lembrei-me das castanhas. As verdadeiras, assadas na rua, brancas de cinza e manchadas do negro de fumo.
Também me lembrei
dela: esguia, promissora, genuína. Acompanhara-me de Óbidos para lhe oferecer e passar a brilhar, plebeia, como um
nonsense, entre as fieiras de costados nobres alinhadas na sua garrafeira.
«- Fica guardada para o S. Martinho», dissera então, levando aquilo a sério.
Mas não sabíamos que não estaria cá.
Saí para a noite gelada e percorri de carro os sítios prováveis: a esquina do TAGV, o fundo das Monumentais, o Largo de Sansão.
Nada.
Tentei depois as novas geografias, pelas entradas dos grandes centros comerciais.
E também nada.
Desisti, com uma frustração infantil do tamanho do mundo.
Os assadores de castanhas abandonaram os seus postos na cidade invernosa.
E já só vêm ao cheiro da
canela, as festas de caloiros e os dias de futebol.
Assim não pode ser!
Subsidiem-se então estes cultores de cozinha artesanal.
Entre uns quantos fogareiros e umas castanhas de Sernancelhe o gasto será ridículo, ao lado do que se esbanjou só com o novo papel impresso do XVIII Governo Constitucional.
Protejam os vendedores de castanhas: - afinal só temos um planeta e os nossos filhos merecem herdá-lo em condições de sobrevida.
- Quem há-de depois curá-los do
spleen de outono-inverno?