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sábado, 13 de junho de 2009

Political Stars não nascem do nada


José Manuel Durão Barroso


Manuela Ferreira Leite nunca lhe perdoou o abandono.

Já aí se percebia de que massa ela era feita, a tal mulher que jamais atiraria com a toalha ao chão.

Pessoalmente, nunca vi Durão Barroso na perspectiva redutora de chefe de um partido e de (eficaz) líder da oposição, em momentos especialmente difíceis.
Em política, tenho tendência a focar-me na pessoa, mais do que na sua circunstância.
Procuro sempre um pormenor empático para ponto de partida, e não nego que estes detalhes me agradavam sobremaneira. Afinidades remotas, mas que eram apenas um princípio de interpretação.


Depois, tenho muitíssimo boa memória.
Lembro-me dele em Genebra no Institut Européen, e de uma entrevista bem humorada que a mulher dava a certa altura a uma revista feminina bem cotada, em que relatava o seu dia-a-dia, o trabalho académico de ambos, as limitações financeiras e as boleias que apanhava para a faculdade com a mulher-a-dias.


Também me lembro bem da facção que encabeçou no seio do PSD contra Fernando Nogueira, para quem iam as minhas preferências de mera observadora. Perdeu muito bem – retenho isso como se fosse hoje.
Já então se intuía nele uma fibra bem diferente dos outros candidatos ao poder. Adivinhava-se um homem experiente e de horizontes mais largos, pouco atreito a jogos inúteis, que perseguia o essencial.
Não tinha o vício dos holofotes e, sobretudo, não demolia à toa.

Claro como água, quanto a estes aspectos.

Por questões de trabalho conheci-o bem antes daqueles episódios que antecederam a sua subida ao poder no PSD.
Corria o ano de 1991 e era ele Secretário de Estado dos Assuntos Externos e Cooperação. Aquilo que fixei, em vários momentos, foi a sua extrema capacidade de trabalho, a implícita (mas evidente) cultura de juspublicista – autêntica raridade num executivo… –, o ânimo construtivo, a pedagogia permanente da acção - de onde sobressaía um lúcido sentido de equipa -, a genuína bonomia e a ausência de quaisquer laivos de ostentação hierárquica ou tentação de estrelato.
Nada que impedisse o World Economic Forum de antever nele um global leader for tomorrow e um political star.

Para mim, que não era caloira nestas task forces nem me deslumbrei jamais à vista do manto do poder (devo confessar que, muito pelo contrário, estes cenários acordaram sempre o meu lado falsamente morigerado de Mafaldinha), ficou-me a demonstração do puro exemplo prático da good governance.

De tão estranha que era no meio, nunca mais esqueci.

Os portugueses, sempre pequeninos, não suportam que um indígena consiga ser maior do que eles.