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sábado, 2 de maio de 2009

Sem estalar o verniz...




Mesmo para um comum mortal como eu, que gosta simplesmente de jantar fora - quando o faço por gozo e não por necessidade -, há um sentido de exigência que se vai impondo. E que não se confunde com aquela inconsciente inclinação para o ofício de cronista gastronómico, exibida, com foros de autoridade, por alguns dos meus conhecidos.

Ainda assim, a espuma das experiências vai-nos enredando E o assunto começa a certa altura a dizer-nos respeito, levando-nos a construir um paradigma.
Ingrato impulso, este. Porque não nos induz naquela tranquilidade reflexiva que gostaríamos de gozar durante o quimo e o quilo, mas, antes pelo contrário, investe-nos numa ocupação turbulenta, cheia de percalços, dúvidas e contradições. Ou não vivêssemos nós num país que tem um clássico e congénito problemazinho com a aplicação do conceito de qualidade, qualquer que seja o ramo do sector terciário em questão.

Quando a ‘causa’ toca a restaurantes – isto é, quando o cidadão, ainda por cima, quer pagar um bom momento de prazer, e não propriamente uma certidão ou um par de sapatos -, a frustração das expectativas torna-se especialmente intolerável.
Daí que seja importante fazer o nosso papel, reclamando. E contrariarmos a nossa branda natureza portuguesa, sempre atreita a resignar-se.

Reclamar é muito saudável e altamente recomendável. Desde que se seja urbano, mas firme, usando de mão de aço e luva de veludo.
Por mim, pratico regularmente e sem particular gosto essa coisa incómoda da queixa.

Nos restaurantes e outros pastos, faço-o a maior parte das vezes oralmente e depois de pagar a conta (se a coisa puder esperar e não constituir um grave incidente de percurso).
Aqui, a chave está na atitude: - trata-se de tomar habilmente a liderança da situação, ser razoável mas incisivo, e explicar pedagogicamente o que está em causa (pondo a tónica na sempre ignorada ideia de contraprestação).
Por norma, a técnica resulta em cheio. E lá vem o inevitável baileys, ou o porto, ou o whisky de malte (às vezes até vêm ‘utilíssimas’ canetas e isqueiros!), com os cumprimentos da gerência. Tudo isto normalmente acompanhado de uma apreciável concentração de empregados e de seiscentos e seis confidências e desabafos, que, somados a tudo o resto, dispensaríamos de bom grado.
O certo é que, quanto ao que importa, se voltarmos a recepção é calorosa e os cuidados redobrados.

Outras vezes, mais graves, não dispenso o livro de reclamações. E instala-se então a costumeira confusão, quase sempre acompanhada de uma hostil e infinita demora no aparecimento do canhenho. Mas uma vez vencida esta terrível barreira dos costumes, quem manda no baile somos nós….
É claro que esta segunda opção só vale a pena se o caso for sério, se o restaurante tiver pretensões e se for tão significante que venha alguma vez a merecer a aplicação da coima.
E já agora a visita da ASAE, claro…

Já sabem: reclamem!
E se for por escrito, não se esqueçam de exigir o duplicado para guardar como prova, ou mesmo para mandar directamente à entidade fiscalizadora, caso desconfiem que o restaurante o venha a fazer, como lhe compete.