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domingo, 25 de janeiro de 2009

Somewhere over a rainbow ?...







Hoje não me apetece pensar que vivo em Portugal.

Estou farta.
Como se não bastasse a recessão e o horizonte pesado de um ano cheio de perdas e dificuldades, 2009 é ano de eleições. E eu estou, singularmente, sem paciência para o confronto de ideias (que me costuma interessar). Para aturar a chicana política dos spins. Para gramar as previsíveis crónicas dos oráculos da opinião nacional. Para as tertúlias televisivas dos entertainers vácuos do costume.
Tudo me parece um déjà vu enjoativo e estéril, um prato requentado, um exercício inútil.
E a verdade é que não me reconheço.

Falava-se disto ontem, à volta da mesa do bar que fica nas traseiras do mosteiro velho, teimosamente afundado numa cota inferior ao rio, com a grande rosácea quase à distância de um braço. Gosto de conversar ali. Inspiram-me a gravidade das pedras e a graciosidade sóbria do edifício românico. E penso sempre que o conceito que o erigiu e lhe deu vida - acolhendo clarissas mendicantes -, é tão gritantemente deslocado nos dias de hoje.
Ainda bem que ficam as pedras, para testemunhar que há futuro...

Falava-se disso, sim. Ao som do "somewhere over a rainbow", ao piano, num estilo cheio de contrastes a lembrar Keith Jarret.
Vociferava-se contra a apatia nacional (afinal não é só coisa minha).
Todos, de alguma maneira, estávamos desinteressados do circo habitual, sem leveza suficiente para encarar a festa ou acreditar no jogo.

Estamos condicionados, preocupados, feridos em várias crenças, detectando friamente o mal sem lhe conhecer a cura.
- Será uma incapacidade de geração, a quem a democracia caiu ao colo em plena adolescência?
Não fossem as pedras persistentes a relativizar todos os perigos, e eu estaria não propriamente indignada (como é costume) mas quase assustada com o Portugal de agora.

Assim, passou-se à roda seguinte de bebidas com pouco gelo, apesar da noite amena.
E desatámos a falar da posse de Obama.
Afinal, é um tema em que ainda é possível encontrar um sentido comum.