pR6nitSNH08tQNpWPA5eZO9DQjdlskzknDPg03Ak5Q0=all-head-content'/> QUARTIER LATIN: Vergonha nacional

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Vergonha nacional




Há 29 anos estava eu numa certa sede de campanha, a cobrir a hora de jantar. Era o frete reservado aos novatos líricos e não numerários...
Quando a bomba rebentou, não acreditei, evidentemente.
Precisei de atravessar a rua para entrar num café apinhado de gente desconhecida, mas igualmente incrédula, de olhos cravados na televisão. E ouvir em directo a absurda notícia.
No ar, por todo o lado, a mesma sentença terrível: «Mataram-no». «Mataram-nos», diziam os cautelosos em murmúrios e os temerários em exaltações.
Numa mesa falava-se de Sidónio Pais: as memórias de um déjà vu nacional que nada me dizia.

Hoje é quase impossível transmitir a brutal violência do choque que sentimos.
Tal como é intraduzível o desânimo, o sentido de injustiça, a revolta, o desalento, o descrédito perante o país que perpetra um crime horrendo como este, exactamente na Hora H, ou seja, a escassos dias de conquistar o direito a uma democracia com norte, organizada e construtiva.

À noite, na tertúlia alargada do costume (policromada), desgastei-me, com outros, numa interminável discussão sobre o acerto da tese de atentado, contra os restantes paternalistas que troçavam dos nossos delírios de razão, embotada pelo sentimentalismo.
Era um aparente, mas hipócrita e falsíssimo bom senso, o deles. Tiravam-me do sério.

Camarate foi a minha primeira grande, brutal desilusão.

Quanto ao resto, sempre fiquei na minha, durante estas quase 3 décadas.
E agora sabe-se que a verdade estava desde o princípio debaixo dos nossos olhos.

Certo, certo, é que desde então nunca mais confiei neste país manhoso, de honra manifestamente duvidosa, onde as vozes do falso bom senso continuaram - e continuarão - a vingar.
Convenientemente.
Comodamente.
Por entre a cobardia total de um povo acostumado.