pR6nitSNH08tQNpWPA5eZO9DQjdlskzknDPg03Ak5Q0=all-head-content'/> QUARTIER LATIN: O Tempo dos Espelhos

segunda-feira, 8 de maio de 2006

O Tempo dos Espelhos



Confesso: - Eu gosto deste homem!




E lá parti em busca do livro, pronta para a cruzada habitual, sempre que está em causa a demanda por qualquer obra acabadinha de ser dada estampa.
Portanto, fui penando de Bertrand em Bertrand, até à filial do ‘Dolce Vita’, onde - aí finalmente -, dou com a pilha dos exemplares ordeiramente expostos, como um tabuleiro de trufas de chocolate numa pâtisserie do tempo de Sagan.
Ao lado, um tabuleiro das gomas picantes: Jorge Luís Borges. Ora, mas que improvável, mas boa companhia!

Li num ápice (este homem não se leva a sério).

Desta vez, o cenário é polimórfico, como um cortejo de matrioskas, saindo sucessivamente umas de dentro de outras
Adiante, descarreguei a tensão num intervalo mais atreito a racionalidades, quando cheguei à descrição dos percursos de pai e filho, em pleno PREC académico (tema suculento que convoca sempre as nossas próprias memórias, mesmo que sejam verdes).

Mas foi a trama da “auto génese” de Júlio Machado Vaz que me apanhou desprevenida e me deixou comblée.
Porque é impossível não se ficar profundamente tocado com a simplicidade desarmada (e, por isso, desarmante) da sua introspecção.
Este livro é uma espécie de rio cheio de afluentes que não nos dá descanso.
Quando nos julgamos a navegar no leito certo, vem outra tentação na rota, para nos baralhar a geografia.

Por fim, não falta sequer um ingrediente de mestre: deixar-nos em suspenso com o aceno de um novo rumo, que acende a curiosidade mas apenas promete a revelação (sem, para já, cumprir):
- a conversa com a neta mulher, apenas aflorada; ou, por outras palavras, o discurso que toda a leitora gostaria de conhecer, vinda de quem vem…

Não conheço ninguém que tão bem entenda o mundo feminino quanto ele.

Este escritor é um allumeur!
(Literário, bien entendu)